1 de março de 2010

O Eremita, Arcano nº 9, o Silêncio e a Solidão



Depois de passar pelos processos dos Arcanos anteriores, o Louco, em sua jornada arquetípica através da vida, encontra o Eremita, Arcano nº 9 do Tarot, uma das fases mais solitárias e mais ricas dessa viagem.

O Eremita vaga em plena solidão, segurando seu cajado (a cautela) e uma tocha (a iluminação), em busca do autoconhecimento, de sabedoria, da verdade interior, da elaboração do que aprendeu até o momento e para isso é necessário o isolamento temporário do meio em que vive.
Em nossas vidas, a força deste Arcano se dá quando necessitamos “dar um tempo” em nossas atividades nas quais interagimos mais com os outros, porque há uma necessidade de se voltar para dentro, de observar o que se passa em nós e isto é meio difícil quando nosso convívio social está em pleno vigor, agravado pelo fato de que a busca da sabedoria não é uma vivência comum entre as pessoas.

Esta sensação de buscar algo maior dentro da alma faz com que um sentimento de solidão inesperado tome conta de nós, mesmo que rodeado de pessoas, como se ninguém fosse capaz de nos compreender; como se falássemos uma língua diferente, irreconhecível para os outros.
Então nos isolamos, desejamos ardentemente uma casinha no campo, na praia, num lugar afastado, para “pensarmos na vida”, repousar a mente ou procurar algo que nem sabemos exatamente o que é, mas que sabemos que existe.
Esperamos por uma inspiração, uma resposta, uma direção que venha por acaso, para depois retomarmos nossas vidas a partir de um novo ponto.
Quando esta viagem material é impossível de ser realizada neste momento pessoal de querer ficar sozinho, nos recolhemos em casa, ficamos mais calados e não raro nos sentimos incomodados com as frequentes abordagens de amigos, convites ou qualquer coisa que peça nossa presença.

A sociedade, por outro lado, sempre valorizou o comportamento extrovertido, exigindo de nós uma postura sempre “para cima”, feliz, sorridente, comunicativa, não respeitando e nem mesmo compreendendo que o ser humano é feito de polaridades, de alternâncias entre a agitação e a paz, a necessidade de estar com pessoas e de estar só.
Também é muito comum esta fase de isolamento ser confundida com depressão, justamente por não se adequar ao sistema competitivo, agitado, neurótico e histérico da atualidade, onde mal cabem reflexão, meditação e valores espirituais.

Mas há um perigo real na força deste Arcano: é a fixação em seu arquétipo, ou seja, o isolamento que deveria ser temporário, tornar-se longo demais, gerando estagnação, fuga, prisão ao passado, aversão aos relacionamentos, fobia social, desinteresse pela vida, pelas pessoas, descrença no presente e no futuro e aí sim, depressão.

Quando o Eremita entra em nossas vidas, os assuntos filosóficos, científicos, religiosos, artísticos e espirituais são favorecidos, bem como as atividades a eles ligados.
Velhos projetos que ficaram na gaveta da alma tendem a ressurgir; sincronicidades acontecem, como ganhar um livro que será de extrema ajuda para a pessoa, ou reencontrar esse livro esquecido na estante; conhecer alguém ou lugar que, de forma inesperada, irá ajudá-lo em suas questões.

Enfim, é um Arcano que traz imensas possibilidades, se vivido com sabedoria, buscando a iluminação que a própria carta representa.

6 comentários:

  1. Realmente todos nós precisamos de um tempo para refletir e posteriormente tomar as decisões corretas, porém se nesse tempo acabarmos nos confortando com a situação de isolamento, podemos acabar entrando num processo de depressão. Legal o artigo, parabéns.

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  2. Realmente, a sociedade não suporta um comportamento mais reflexivo preferindo os eternos idiotas sorridentes e contentes porque são facilmente manipulados.
    é a pilula do alto astral sempre, gerando um monte de gente alienada e vazia e que nada acrescenta na vida de quem pensa.
    agradeço a Deus quando tenho minha fase eremita, porque cresço.
    tambem gostei muito do artigo e fica aqui os parabéns e muito obrigado.
    Antonio Lins

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  3. Não é nada fácil aceitar um caminho solitário para a auto-compreensão.....é um processo árduo, doloroso, precisamos mergulhar fundo e
    deparar com os nossos fantasmas, com a nossa sombra.....reconhecer as nossas debilidades, as nossas limitações.....!
    Julgo um dos aspectos mais importantes nesse caminho solitário, é a busca na tentativa de explorar o que Jung denominou " o eu não - descoberto"!!!!
    Parabéns....senti firmeza.....! Gostei muito do seu artigo, aliás desse e de todos os outros,continue assim...!
    "Bruxinha"

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  4. é como se ninguém mais tivesse o direito de avaliar a pp vida, não é isso?
    não tinha me ligado nessas coisas, caí aqui neste blog por acaso e to gostando muito!

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  5. Esse Arcano trás ensinamentos fantásticos. excelênte texto minha irmã.


    "Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro, acorda"

    (Jung)

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  6. Saudações Rita,muito bom a explanação do eremita,eu gostei muito,mesmo porque estou passando por essa fase eremita,e está sendo muito enriquecedor,paz profunda!!!

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