31 de maio de 2010

A Estrela, Arcano 17, A Esperança e A Fé


Um dos Arcanos mais espirituais e positivos do Tarot, a Estrela, Arcano nº 17, representa a Esperança, não uma esperança vazia e tola, mas aquela que parte de dentro da alma e que muitos chamam de fé.
A Esperança verdadeira, fruto de um árduo trabalho de transformação interior e também exterior.

A figura humana da lâmina é uma jovem nua, derramando dois jarros de água: um sobre um rio de águas límpidas e o outro sobre a terra verde.
Há um céu estrelado, sem luar  e uma enorme Estrela de Oito Pontas brilha sobre a paisagem, dividindo a cena com a jovem.

A menina realiza sua tarefa com calma, concentrada, observada por uma ave pousada sobre um galho de uma árvore.
A nudez da jovem representa o indivíduo despido de todas as suas máscaras, de todos os personagens que se acostumou a representar: em termos junguianos, a nudez  significa o desfazer-se de sua persona.

Pensem em quantos personagens ou papéis as pessoas possuem no cotidiano: o papel de pai, de mãe, de filho, de marido, namorado, amigo, profissional, de homem, de mulher, cidadão deste ou daquele país, etc, etc, etc. Essas máscaras ou personagens surgem em decorrência de nossas interações com os outros e com o mundo, mas o perigo é quando uma delas se torna a estrela principal, ocultando a verdadeira essência do indivíduo.

Justamente por isso, a menina está nua na figura: é alguém despido de todos os papéis, em seu estado natural, puro, tal como é, integrando tudo que existe em si.
Está em contato consigo mesma, com sua natureza, deixando fluir sua personalidade, em contato com sua vitalidade (a água despejada), com um pé no rio (o inconsciente) e outro na terra (o consciente), iluminada pela Estrela – Guia da Esperança.

A menina realiza uma Alquimia Espiritual.

Qual a mensagem desse Arcano?

Ele quer nos mostrar que não é o fim.
Que depois de tantas amarguras, derrotas, escuridão, falta de objetivos, desespero, desilusões, demolições internas, daquelas estruturas que nos mantinham de pé, às vezes tão secretas e que agora ruíram, como no Arcano anterior, a Torre; apesar de todas as dificuldades e da noite escura é preciso buscar dentro de si a energia vital, os impulsos internos que nos movem para a vida, a alegria propulsora, nossa verdade da alma, porque há uma Estrela ardendo, como a da Belém, que um dia guiou Três Sábios e que agora pode também nos mostrar o caminho, se tivermos também sabedoria para enxergá-la.

A Estrela de Oito Pontas simboliza também a regeneração, a recuperação depois de períodos turbulentos, de onde saímos desgastados, desacreditados e sem forças.
Mas para essa recuperação ocorrer é preciso despojar-nos de nossos artifícios e abrirmos o coração, como o da menina à beira do rio, ou seja, sermos nós mesmos em toda plenitude.

Assim não há medo, mas confiança em si mesmo e também confiança em Deus, nas forças ocultas do Universo ou naquilo que está Acima de nosso entendimento.

É o Espírito Sublime que nos guarda; é a Luz Imaterial que nos cerca; bússola incompreensível para a lógica; mapa para além de todas as fórmulas.

A força para se ter coragem e seguir, para a menina sábia da carta, advém dos dois pólos: a terra e o céu; a realidade e a imaginação; o consciente e o inconsciente; o revelado e o oculto.

Novamente lembrando o princípio de Hermes Trismegistus: como no Céu, na Terra; como Em Cima, Embaixo.

A avezinha pousada no arbusto, a íbis dos egípcios, que mal aparece na carta, mostra sutilmente que um novo tempo é preparado além das montanhas; que há um lugar nos esperando, depois de nossas lutas; que por mais que as coisas nos pareçam impossíveis, ou difíceis de ser superadas, temos que ter paciência e acreditar, porque sabemos de todos nossos esforços externos e principalmente internos.

Porque a Esperança não é um sentimento fácil de se ter: muitas vezes somos levados pelo medo, pelas exigências externas e principalmente pelas cobranças pesadas e sufocantes que fazemos de nós mesmos e não reparamos nesses pequeninos sinais, nas íbis cotidianas, que nos surgem em formas de sincronicidades, às vezes de maneira muito humilde, como surge  tudo o que é realmente grande e importante, e que nos apontam que há saídas para nossas dificuldades e nossos problemas, estes sim nem sempre tão gigantes como pensamos ser; que há uma Aurora nos aguardando e que o grande triunfo nessa vida geralmente está nas coisas mais simples.


Em sânscrito existe uma palavra, Satchit-ananda, que significa: Sat, ser (a verdadeira essência); Chit (com conhecimento) e Ananda (com alegria).


Talvez esteja na Grande Estrela, que está não só acima de nós, mas sobretudo dentro de nós, a chave mágicka, aquela das crianças: a força e a alegria; "Ananda", tão necessária para prosseguir viagem.


Temos que seguir essa Estrela Benevolente, com confiança, com alegria e fé.


A Jornada da Vida é longa e a Esperança pode nos dar coragem para trilhar o caminho e é também motor para nossa Vontade e as duas, operando em conjunto, são capazes de realizar verdadeiros milagres...



19 de maio de 2010

O Enamorado e A Estrela de Seis Pontas





O Arcano nº 6 do Tarot possui algumas variações.

Nos tarots clássicos, há a figura de um jovem entre duas mulheres e Cupido apontando sua flecha para a cena; em alguns tarots modernos, transculturais e surrealistas pode haver tanto a figura do casal com o Cupido ou um anjo acima deles ou apenas a presença do casal numa paisagem radiante.

Como se vê, as figuras de uma segunda mulher e a de um anjo ou Cupido nem sempre aparecem e há uma razão para isso, que discutirei a seguir.

O Arcano n º 6, O Enamorado, Os Enamorados, O Namorado ou Os Amantes, dependendo de seu título em diversos tarots, tal qual seu próprio arquétipo que lhe serve de fonte, é dúbio e inconstante: representa acima de tudo as escolhas, as decisões, os caminhos a seguir e também o Amor.

Nos tarots clássicos, como a Lâmina 6 de Marselha, há um jovem no centro da trama: está cercado por duas mulheres, onde uma representa sua Anima instintiva, a atração sexual, seus desejos, seus impulsos, sua parte material, a deusa Afrodite em estado primário, a sedução, os prazeres e o Mutável e a outra mulher representa Sophia, o conhecimento, a busca, a Verdade Interior, a proteção, o Espírito, o Caminho, a iluminação, a cura e o Transmutável, sendo a catalisadora do processo alquímico interior, que transforma a prima materia em pedra lapidada.

Acima, há Cupido ou Hermes, o Mensageiro, que observa e age sobre a cena, disparando sua flecha sobre o moço, que está em plena postura de impasse, de indecisão.

O que acontece aqui, de tão humano e cotidiano?

Neste primeiro Arcano tipicamente psicológico, há um conflito.

O jovem se encontra, nessa etapa, com as duas faces de sua Anima, isto é, seu ideal feminino dentro da alma e que aqui estão separadas e que para ele se apresentam como antagônicas.

Se fosse uma mulher, nosso protagonista estaria bem representado como uma bela jovem, indecisa diante de duas imagens de seu Animus, que poderiam ser a de um homem sedutor, bem vestido, jovem, bonito e envolvente e o outro forte, poderoso, protetor e enigmático.
Quem sabe entre um príncipe e um rei; um mágico e um mago; um ator e um poeta.
Ambos, a lhe oferecer o mundo.
Ambos, indispensáveis.

Usem a imaginação, tarefa que o Tarot, a todo tempo, nos incita a exercitar.
Porque o Tarot, por ser a Vida em imagens, não trata de situações específicas masculinas ou femininas e sim humanas, cotidianas e por isso, universais.

No baralho de Marselha, essa situação conflitante é muito clara, ao contrário do que ocorre em outros baralhos, que mostram o jovem feliz com sua amada, realizado no amor, pulando etapas, como se já se encontrasse no Arcano 19, O Sol; ou no Arcano 21, O Mundo ou mesmo na etapa final do naipe de Copas, dos Arcanos Menores, o número 10; como se já fosse possível, ainda no Arcano nº 6, fazer essa integração com seus opostos interiores, de uma forma pura, límpida, rápida e sem conflitos, sem dores e sem dúvidas e sem ter que lidar com os diferentes aspectos de sua Anima, isto é, de si mesmo.

Por isso, tratarei da representação no Tarot, do Arcano O Enamorado, com os quatro personagens presentes.

Porque aqui, no Arcano 6, o tema é o Amor e Ele não se dá antes desses impasses.

Mas afinal, por qual das duas está apaixonado?
Com qual delas quer seguir adiante?
Ou será que partirá sozinho?

Para o Tarot, essas questões não são importantes.
Creio eu, nem para a vida, dependendo da situação psíquica de quem vive esse arquétipo em determinado momento.

Como o Tarot é a representação arquetípica da jornada do ser humano, o que há de fundamental em cada Arcano não é o desfecho da situação, mas a própria situação em si.

Até então, nos Arcanos anteriores, a psique, a alma ou o protagonista dessa jornada tinha se deparado com o arquétipo da Mãe, do Pai, da Mulher Sacerdotal e do Sacerdote.
Aqui, no sexto Arcano, ele se vê envolvido com duas mulheres de características supostamente diferentes, pois as mulheres são apenas representações das próprias instâncias de sua personalidade, só que ainda em estados distintos.
São elas, também dessa forma, personagens.

Quando somos adolescentes ou ainda muito jovens e estamos descobrindo a nós mesmos, como indivíduos separados do contexto familiar, com personalidade, gostos, pensamentos e sentimentos próprios, muitas vezes é através do primeiro amor que essa diferenciação se dá.
O apaixonar-se, nessa fase, funciona como um Rito de Passagem, como tantos outros.

Ao longo da vida, o que se espera, em termos de evolução psíquica, é que essa diferenciação ocorra gradativamente, até quando nos tornarmos adultos e responsáveis por nossas próprias escolhas.
E é também através dos relacionamentos afetivos ( isso se o indivíduo está realmente com os pés em sua Estrada) que ele consegue se conhecer mais e mais, separar o que quer e o que não quer como companhia e essas coisas só  acontecem com muito aprendizado, experiência, sofrimento, alegria, ilusões, decepções e só pode ser real e pleno se for através de um verdadeiro envolvimento com o outro.

Isso não tem a ver com a idade cronológica da pessoa e sim com seu grau de maturidade psicológica: há pessoas de pouca idade que já elaboraram certos processos em sua vida, inclusive os do coração, enquanto outras bem mais velhas ainda não conseguiram sequer o mínimo de autoconhecimento, estando ainda condicionadas aos parâmetros sociais, familiares e do ambiente e ainda muito presas às satisfações momentâneas e ao julgamento dos outros.

Mais que isso: sonham com um par ideal, mas sequer sabem o que é o ideal para si, quais são os seus limites, seus potenciais e o que querem ou não querem em uma relação.
Muitos até conseguem ser profissionais bem sucedidos, mas sua vida afetiva é um mar de problemas e de erros.

Paradoxalmente, não acreditam ser certo arriscar sua vida profissional, seu dinheiro, sua saúde ou seus planos como se arriscam por aí nos relacionamentos; cuidam com muita precaução de todas as coisas, menos de seu coração, porque há hoje em dia um pensamento quase unânime de que nossa vida afetiva deve ser tratada com displicência e irresponsabilidade e que devemos levar esse assunto como uma diversão qualquer, como tiros dados na escuridão, ou um lance de sorte, apenas.

É dito que podemos sonhar, planejar e empreender uma viagem em especial;  devemos  fazer projetos no plano profissional, procurar as melhores oportunidades de crescimento em nossas carreiras; podemos e devemos cuidar de nosso corpo, escolher muito bem um curso e onde vamos estudar, podemos e devemos escolher com cuidado nossos amigos, nossa moradia, onde vamos aplicar nosso dinheiro, mas quando se trata de amor, com quem vamos nos envolver, parece que isso deve ser feito de qualquer jeito, "adaptando-se às circunstâncias"  e quando acreditamos que não deve ser assim, quando queremos que não seja assim, somos taxados de sonhadores ingênuos e retrógrados, porque sabemos o que queremos e o que não queremos como companhia.

Como se saber o que mora em sua alma, buscar alguém para compartilhar esses tesouros, os nossos e do outro, esse com o qual se tenha grande sintonia fosse uma grande bobagem!!..

É como se essa área da vida tivesse que ser encarada como um eterno teste, um jogo de sedução e divertimento, onde sai ganhando o mais esperto, aquele que levanta o troféu da conquista da vez, para a inveja e admiração de todos; uma corrida competitiva onde os mais "hábeis" vencem, permeadas por valores como beleza, poder, dinheiro, fama, sucesso e eterna juventude.

E o que se vê por aí é uma série de relacionamentos vazios, neuróticos e doentios; um sem-número de separações, traições, crimes e uma avalanche de casinhos passageiros; uma sucessão de relacionamentos vividos por acomodações, por rotinas e pouquíssimos, raríssimos, exemplos de amor verdadeiro.


Relacionamentos que são uma grande brincadeira: joguinhos, sedução barata, exploração do outro, clichês e muita futilidade, onde o que vale é "se dar bem", fazer "andar a fila", isto é, fazer valer mais uma forma da sociedade de consumo, pautada no passageiro, no superficial, no artificial e no descartável.


Ou então uma porção de gente mantendo relacionamentos sem significado, mortos, fracassados; outros tantos vivendo de migalhas do outro, implorando pedaços de atenção, de sexo ou companhia; pessoas se contentando com os restos que o outro tem a lhe oferecer e todo esse mar de humilhação e de mentiras é mantido só para se dizer depois que não está sozinho, que possui um marido, esposa, namorado ou namorada ou qualquer coisa que o valha.
Perdem a dignidade, a honra e a auto-estima; rastejam como vermes num relacionamento em nome das aparências, em nome de muita covardia e possuídos por seus pesadelos: medo de viver, medo de morrer, medo de ser, medo de si mesmo. 

E mesmo assim, essa maioria de pessoas que segue essas instruções, ditadas pelo pensamento corrente, pensamento esse que vai na contramão do crescimento psicológico e das bases para um relacionamento verdadeiro, essa maioria sente que está  "aproveitando"  muito bem as coisas e nunca pensa que sua vida afetiva poderia ser de enorme contribuição, senão a principal, para um aperfeiçoamento de sua personalidade e um catalisador em seus processos do tão adiado auto-encontro.

Ou seja, um caminho para a felicidade.

Não passa sequer pela mente dessas criaturas que qualquer forma de liberdade jamais se pauta em coisas fúteis, passageiras, destituídas de sentido, mentirosas ou vazias.  

A verdadeira liberdade parece estar sempre na contramão das maiorias; é sempre o oposto daquilo que é ditado, esperado e ensinado para elas.
É construída com material sólido, rico, profundo, conquistado e elaborado dentro de nossa mente e coração a duras penas e com muita coragem.
A conquista da real liberdade advém de uma grande rebeldia interior, de um "não" muito sonoro aos caminhos pré-estabelecidos e da posse diária e constante de si mesmo.

No passado, a vida afetiva das pessoas era, em sua maioria, comandada por escolhas convenientes: o casamento e os relacionamentos eram pautados muitas vezes nos ditames sociais.
Era uma forma de controle social, através do conceito vigente de família.

Hoje, ao meu ver, ainda o são, só que no seu lado oposto: a pessoa mal conhece a si mesma e diz amar outra pessoa, amparada principalmente ou quase exclusivamente pelo sexo, por condicionamentos ou porque o relacionamento o “satisfaz”, isto é, alimenta as expectativas do pouco que o indivíduo conhece ou pensa conhecer de si, isso para não falar das milhares de dependências, vampirismos e neuroses, que são chamadas de “amor”...


Ainda é uma forma de controle social, só que através do conceito de individualismo.

Mas o Amor em sua sublime essência, motor dos acasos, da vida e de toda Pulsão Criadora não se sujeita aos caprichos daqueles que não o conhecem realmente e daqueles que não o querem conhecer de verdade.

Por isso, o Verdadeiro, ele acontece para poucos: exige que seja antes buscado, do fundo da alma e isso depreende enormes esforços pessoais, para os quais a maioria das pessoas não está nem um pouco preparada ou disposta a enfrentar.

O Amor é a Estrela de Seis Pontas, feita por dois triângulos que se entrecruzam e se completam: um está com o vértice para cima; o outro, para baixo.
É a integração, o resumo simbólico do princípio máximo do Hermetismo: Como no Céu, na Terra; como Em cima, Embaixo.

 
Hermes, lá de cima, O Cupido de nosso Arcano 6,  aponta o caminho para o protagonista da Carta: 
Ame-se, Ame e Integre-se!!

Por isso, uma das mulheres no Arcano 6, como já mencionei anteriormente, representa a necessidade do lado instintivo, do desejo e da sedução, que não podem ser negligenciados e negados num relacionamento: ela é a terra; a outra representa, para nosso mocinho da carta, a Anima Espiritual, o céu, o complemento feminino de sua essência psíquica, que também não podem e não devem ser negligenciados.

Mas nenhuma das duas, é ainda, a Completude!!
Ambas são extremas demais para ele, aqui nesse estágio!! Porque as duas são, aqui nesse Arcano, dois lados opostos e esteriotipados do feminino.

Neste Arcano de Libra, nosso protagonista se vê indeciso, entre uma e outra....mas terá muito o que viver, ver e aprender ainda em sua Estrada....

Na questão do Amor e da Vida, se assim seguir sua Jornada e com a imprescindível posse de si mesmo, encontrará posteriormente sua Soror Mysthica, isto é, sua Afrodite em seu Estado Espiritualizado e sua Sophia Humanizada, na mesma mulher, não mais separadas, mas integradas numa só pessoa.
E numa mulher comum, como ele, mas única, que possa entrar em sintonia com sua verdadeira essência.

E assim, também nossa protagonista imaginária, entre o Mágico e o Mago, entre o Príncipe e o Rei, terá a mesma surpresa maravilhosa de ver um homem comum, tão comum quanto ela, mas seu único Frater Mysthico, caminhando e compartilhando as mesmas e incríveis paisagens.

Porque é somente com a união de ambos os aspectos, primeiro dentro de si mesmo, depois através das sincronicidades que se concretizarão na vida cotidiana e através da Mágicka que ela nos proporciona todos os dias, que o Moço ou a Moça dessa história que nos é tão conhecida, porque é a nossa história, poderão se tornar finalmente um Homem ou uma Mulher completos.

10 de maio de 2010

A Função Psi e a Paranormalidade



Muitos já ouviram falar dos fenômenos paranormais e certamente já ouviram ou leram algum relato dessas ocorrências, seja numa conversa com amigos, num filme, livros ou mesmo já sentiram ou presenciaram esse tipo de fenômeno.

Há muita descrença e ceticismo em torno da veracidade desses fatos; muitas pessoas que já os testemunharam não raro preferem ficar em silêncio, por medo de críticas ou de serem chamadas de loucas, ou mesmo de serem alvo de zombaria.

O fato é que esses fenômenos parapsicológicos já foram amplamente estudados e o que se sabe é que certas pessoas possuem mentes capazes de realizar coisas muito estranhas e de obter informações de modos que a lógica é incapaz de explicar.

Há vários nomes para os indivíduos que possuem essas faculdades mentais: médiuns, pessoas sensitivas, paranormais, bruxos, videntes ou indivíduos psi.

As funções psi dividem-se basicamente em duas: psi-gamma, que diz respeito à percepção extra-sensorial, aos fenômenos mentais como telepatia, precognição (conhecimento do futuro), clarividência, retrocognição (conhecimento do passado sem uso de informações prévias) e a função psi-kappa, que se refere aos fenômenos físicos, às intervenções no ambiente ou sobre objetos sem a ação direta sobre eles, como manifestações de poltergeists, aportes, psicocinesia, etc.

Quem nunca sonhou com uma cena, um lugar, com pessoas desconhecidas e tempos depois esse sonho acontece em detalhes?
Ou então visitamos um lugar pela primeira vez e nos lembramos que já o conhecíamos em sonho?
Ou ainda, num dia qualquer, reconhecemos aquela pessoa que vimos em sonho ou numa visão em estado de vigília e ficamos perplexos ao sermos apresentados a ela e ainda termos que fingir naturalidade?
Quem nunca “adivinhou” como era a personalidade de um estranho que nos foi apresentado e foi capaz de saber o que ele estava pensando, sentindo e vivendo?
Quantas vezes entramos num lugar e somos capazes de descrever cenas, pessoas e fatos que se passaram ali e que depois são confirmados por vizinhos ou por outros que estavam lá na ocasião desses fatos?

Pessoas com essas estranhas capacidades mentais são os indivíduos psi-gamma, capazes de obter informação a respeito de alguém, de um lugar, de um fato, de um objeto, à distância no espaço e no tempo como também de “ler” e conhecer a personalidade, o pensamento e o sentimento de outros sem que haja dicas ou informações anteriores.

Os indivíduos psi-gamma experimentam muitas vezes grande angústia com seu conhecimento extra-sensorial. Não que os fenômenos físicos não sejam incômodos e indesejáveis, mas aqui, como se trata de conhecimento e informação à respeito de coisas e pessoas, que por meios naturais e normais nunca se obteria, as questões do livre-arbítrio, destino, inevitabilidade de fatos, medo, ansiedade, intervenção ou mesmo culpa pela não ação sobre o que se sabia que iria ocorrer são pontos que sempre são tocados dentro da mente e do coração de alguém com essas capacidades.

São poderes, dons ou um fardo na vida de quem os experimenta?

Vários autores, espiritualistas ou cientistas, que estudam os fenômenos paranormais, acreditam tratar-se de um dom, que deve ser usado para ajudar outras pessoas, orienta-las em suas ações, decisões, assim como meio do próprio indivíduo psi encontrar seus melhores caminhos a seguir na vida.
Já outros acreditam tratar-se de um problema, um peso a ser carregado, por ser antinatural e prejudicial à saúde psíquica da pessoa que produz esse tipo de fenômeno.

Ambos estão certos, creio eu.

O indivíduo psi do tipo gamma é como uma antena em pleno funcionamento: ele é capaz de captar informações que se encontram distantes, no espaço e no tempo, ocultas e assim ter conhecimento daquilo que outras pessoas não sabem.
Pode penetrar no inconsciente de quem está a sua volta, principalmente daqueles que também possuem um tipo de paranormalidade, por ser este um indivíduo de inconsciente aberto, mas também é capaz de transmitir contra sua vontade suas próprias informações, se ainda não conhece certas técnicas de auto-proteção.
Nada impede que também possam manifestar ocorrências do tipo psi-kappa; isto pode se dar em maior ou menor escala.

O paranormal desse tipo frequentemente tem sonhos repletos de símbolos, de uma riqueza de detalhes que impressiona; seu inconsciente é um universo rico, povoado de arquétipos e de conflitos; pega no ar as coisas, tem intuição fortíssima e frequentemente é o primeiro a perceber o que ninguém percebeu e que talvez jamais irão notar.

Tem visões, pressentimentos ou precognições (premonições) parciais ou completas; “vê” ou “ouve” frases, conselhos, cenas vindas não se sabe de onde e que não fazem parte de seu repertório intelectual, nem de seu meio, nem de suas memórias; sente muitas vezes o que o outro está sentindo ou pensando e todos esses fenômenos geralmente são de grande carga emotiva, o que o desnorteia e muitas vezes o isola, fazendo com que o indivíduo se sinta diferente, incompreendido e estranho no meio das outras pessoas.

Frequentemente são pessoas críticas, de inteligência acima da média, criativas, sensíveis e em grande parte dos casos são diagnosticadas como portadoras de alguma doença mental ou neurose grave e se isso não ocorre, são vistas como excêntricas e esquisitas.

E para quem ingenuamente acredita que a Inquisição acabou, saiba que ela continua com toda sua força, interrogando, classificando, prendendo, medicando, julgando, segregando, isolando e zombando de pessoas que não se adequaram aos comportamentos esperados, comportamentos esses que não incluem a faculdade parapsi, colocando o indivíduo nas fogueiras morais da chacota, do descrédito, da incompreensão e do isolamento, na melhor das hipóteses, e na pior delas, nas clínicas psiquiátricas e hospitais.

Esses mesmos inquisidores, donos de uma suposta verdade científica, filhos da lógica, do sensato, do plausível, do saber supremo e do racional, sentados em suas cadeiras de luxo nas universidades ou nos grandes consultórios, céticos e desinteressados por qualquer coisa que não esteja dentro de sua forma de ver e compreender o mundo, não explicam como, por exemplo, um sonho pode se concretizar em todos os detalhes na vida real, com os mesmos fatos, cenas e personagens, e assim eles restringem-se apenas a dar de ombros e dizer que não passam de mera coincidência, ignorando até a própria lei das probabilidades.

Esses mesmos céticos, talvez no fundo se incomodem com o que não podem explicar dentro de suas convicções e saberes, ao invés de partirem para a investigação do que é até então desconhecido ou inexplorado.

Há ainda os inquisidores que se apoiam exclusivamente em sua ignorância, em sua falta de entendimento, em suas vidas fúteis e na total falta de interesse nos assuntos e manifestações do inconsciente. Nunca experimentaram nada além do visível, do previsível e comum e por isso já possuem respostas prontas e vazias para qualquer relato de um fenômeno paranormal, julgando também como loucas ou mentirosas aquelas que dizem ter passado por algo incomum e que sua mente medíocre é incapaz de compreender.

A pessoa que possui faculdades parapsicológicas sofre, muitas vezes, um desequilíbrio em sua psique; não raro muitos entram em depressão ou desenvolvem algum quadro de sintomas de perseguição ou de fobias, o que facilita ainda mais as atividades parapsicológicas, pois elas são oriundas do inconsciente.
É um processo que se auto-alimenta: desequilíbrio psíquico – fenômeno - desequilíbrio psíquico, podendo começar também pelo fenômeno.

Acredito não em cura, se é que se pode usar essa palavra, mas na tentativa de um bom convívio com essas manifestações.
Elas costumam aparecer desde a infância, persistindo na adolescência e na vida adulta, com mais ou menos frequência, mas nunca deixando de ser intrigante e muitas vezes incômoda.
Com o tempo, adquire-se um certo costume com esses fatos e a maneira de encará-los e de lidar com eles é que fará toda a diferença ao longo da vida.

Existe também, no caso das premonições ou das telepatias, o fato da ética pessoal: se deve-se contar às pessoas o que viu, o que sentiu, o que ouviu, principalmente quando se refere a acontecimentos que ainda estão por vir ou que estão ocorrendo de forma oculta e há sempre a dúvida de que se esses fatos fossem revelados, poderiam ser evitados, no caso dos negativos.

Por isso muitos paranormais acabam fazendo uso de algum método oracular que lhe sirva de suporte, para que parte de suas experiências possam, junto com o método, fluirem e assim, poder ajudar os outros e a si mesmo.

Essa questão da ética é de extrema importância, uma vez que envolve não só o indivíduo que vê, mas o outro ou os outros protagonistas das cenas, das clarividências e das informações telepáticas.
Pode-se optar pelo silêncio ou contar, mas ambas as posturas são de muita responsabilidade.

O paranormal precisa entender o que se passa com ele e nunca se ver como alguém dotado de poderes, o que pode torná-lo arrogante ou presunçoso e nem ver a si mesmo como doente ou um ser “extraterrestre”.
A pesquisa, o estudo e a procura do equilíbrio pessoal diante da ocorrência dos fenômenos psi devem ser cultivados e estes devem ser encarados como parte integrante de sua mente, de sua personalidade, para que assim seja possível desenvolver técnicas para que esses fenômenos ajam a seu favor e que possam também ajudar outras pessoas.

Dividir experiências com outros que também passam pelo mesmo problema também é muito positivo e gratificante e procurar ajuda de pessoas capacitadas e mais experientes diminui o sentimento de estranheza, o medo e a ansiedade quando esses fenômenos ocorrem.

A Parapsicologia tem se desenvolvido muito, mas infelizmente no nosso país ainda é uma ciência vista com muita desconfiança ou desprezo e muitas vezes os fenômenos psi são tratados pelo ângulo das religiões e das superstições, contribuindo para um maior atraso e mistificação das ocorrências.

Muito preconceito e ignorância ainda cercam esses assuntos, mas acredito que num futuro breve, a paranormalidade será estudada e encarada com seriedade e as pessoas que possuem dons especiais serão vistas com todo o respeito que merecem.

Mais lidos: