21 de janeiro de 2011

Ocultismo e Sociedade


O estudo da Filosofia Oculta é muito antigo, pois o homem sempre procurou respostas para a razão de sua existência.

Sempre houve e sempre haverá no ser humano, pelo menos na alma daqueles que refletem, a ânsia de compreender o desconhecido, o motivo de tantas alegrias e males na vida das pessoas; o mistério que cerca certos tipos de sonhos, de visões, de acontecimentos estranhos e de certos fenômenos.

Os enigmas da vida e além dela; o poder da psique humana, de seus pensamentos, de seus sentimentos e do espírito; os mistérios da Criação e o alcance do Conhecimento Oculto.

Esses assuntos, no entanto, sempre foram tema também das religiões, o que causou no passado muitos conflitos entre os estudiosos do Desconhecido e os membros das religiões dominantes, conflitos esses que não raro acabaram em perseguições e em assassinatos dos antigos pensadores do Oculto.

Ainda hoje, os autênticos meios ocultistas são muito pequenos.

Poucos são os que verdadeiramente buscam o Conhecimento e se propõem a seguir essa Estrada.

Primeiro, porque vivemos num tempo de valores descartáveis, efêmeros e superficiais, visando apenas o prazer imediato, o alcance dos bens materiais, da beleza padronizada e juvenil, da informação de fácil digestão, das diversões intensas, do luxo, do conforto, dos relacionamentos afetivos de grande intensidade material e enorme pobreza espiritual e de uma vida que deve estar sempre cercada de itens e de pessoas “apreciáveis” pela maioria, que não causem problemas ou que não destoem do que a maioria julga ser o modelo correto.

Segundo, porque para o aprendiz, estudante ou mesmo mestre do Ocultismo, há sempre a necessidade de muitos e profundos estudos, compreensão, dedicação, aplicação, disciplina e também uma constante revisão de seus valores, além de muitos sacrifícios pessoais, abdicações e persistência, ações e desafios que a maioria das pessoas não está nem um pouco disposta a enfrentar ou realizar.

Mas paradoxalmente vivemos também num tempo onde a curiosidade, a necessidade e a busca de valores espirituais são elementos presentes.

Talvez porque esses estilos de vida pautados no material e no sucesso, um dia deixem de responder ou de satisfazer essas pessoas que os seguiram; talvez porque dentro da alma de cada um, mesmo adormecida, haja a necessidade de uma busca maior, de encontrar valores sólidos.

Essa Busca é um elemento do inconsciente coletivo e mais cedo ou mais tarde ela surge nos indivíduos que tenham pelo menos uma razoável evolução espiritual, mesmo que estejam mergulhados nas coisas materiais e passageiras dessa vida.

Não é a toa que os livros de auto-ajuda vendem tanto, mesmo que a maioria seja de conteúdo raso e de fácil assimilação.

Por outro lado, as religiões tradicionais também perderam muito de sua força e assim vieram as decepções, o sentimento de vazio e a procura por respostas em outras esferas.

Foi assim que irrompeu uma porção de seitas, de novas religiões, de remodelagens de antigas seitas e com elas uma série de modismos, comandados principalmente pela cultura dos EUA, vindas maciçamente da indústria do cinema, onde os assuntos ligados ao Desconhecido são tratados de forma banal e infantil.

Não pretendo citar quais são essas seitas, modas e tendências religiosas ou “filosóficas”, mas elas estão aí, nas vitrines, nas bancas de jornais, nas primeiras prateleiras das grandes livrarias e nos primeiros lugares das bilheterias dos cinemas.

Tudo para se ganhar muito dinheiro e jamais proporcionar ao indivíduo algum aprendizado!!

A intenção é criar um exército de alienados consumidores, adorando a isso ou àquilo, sem um mínimo de crítica, seguindo fielmente as receitas dos livrinhos mal escritos, os rituais disso ou daquilo, imitando os ícones que vêem nas telas, para assim ser possível dar continuidade a toda futilidade e superficialidade das quais o nosso sistema econômico-social se alimenta.

Assim, a cultura de massa, para se manter, resolve dois problemas: a busca da espiritualidade, do autoconhecimento, da Luz Interior, esse anseio que faz parte do espírito de nosso tempo e que aflora como um comportamento coletivo latente, podem ser mentirosamente adquiridos sem sacrifícios, sem lutas, sem dedicação, sem reflexão, sem sofrimento, com toda facilidade e prazer, coberta de muitos enfeites, em qualquer loja, em qualquer shopping, na forma dessas neo-religiões de prateleiras e dessa forma é possível manter a alienação e a superficialidade nas pessoas, para que assim possam continuar sendo um bando de consumidores sem crítica!!

E quanta gente se perde nessa multidão!!

Quantas pessoas se recusam a procurar e explorar seu universo interno, povoado por todos os tipos de personagens, das luzes e das sombras preferindo, ao invés disso, ser um boneco nas mãos de outros, verdadeiros manipuladores da vontade, dos desejos, dos pensamentos e sentimentos de uma maioria!!

Quem se recusa à tarefa do autoconhecimento delega poderes aos outros, uma vez que desconhece as dimensões de seu potencial e de suas fraquezas, como alguém que abandona sua própria casa que, por covardia, medo ou preguiça, não a explorou e a ocupou como devia, deixando que outros tomem conta dela e façam dela o que quiserem.

Assim são as manipulações todas: alimentam-se da ignorância das pessoas, não necessariamente uma ignorância intelectual, mas a Grande Ignorância que é o desconhecimento de si mesmo.

O estudo e a prática do Caminho Desconhecido são estreitos, difíceis e exigem coragem.
É necessário muito estudo, muita dedicação, sacrifícios e luta.

A sociedade como um todo não está receptiva às pessoas que se dedicam ao Ocultismo, usando muitas vezes ferramentas institucionalizadas para classificá-las de loucas, de compulsivas, cheias de fantasias e alienadas da “realidade”, uma vez que o aprendiz passa a ter um olhar diferente sobre as coisas e não raro também um comportamento mais introspectivo e analítico do mundo e no mundo.

Também é muito comum que a família, amigos e colegas, ao tomarem conhecimento de que alguém próximo está se dedicando aos estudos ocultos, sejam eles Cabala, Alquimia, Tarot, etc, afirmarem que o aprendiz anda com "comportamentos estranhos" ou "inadequados", que "anda mudado"  e  a "culpa" de tais comportamentos, obviamente, quase sempre é porque a pessoa "anda envolvida com coisas estranhas", "perigosas" ou mesmo "diabólicas".

Por um lado eles têm razão.
O Conhecimento modifica quem o busca; muita coisa que antes era de grande importância passa a ser irrelevante e vice-versa, e as pessoas mais próximas notam a transformação.
O problema é o julgamento que fazem dessa transformação sofrida.

A verdade é que o aprendiz passa a ser, na maioria das vezes, um peixe fora da água.
Tem que se preparar para essas coisas e até para uma exclusão velada  que empregarão sobre ele.

Por essas razões, também, se faz a necessidade da coragem, da luta e dos constantes desafios na estrada do Ocultismo.

Há muito preconceito da sociedade em relação ao Ocultismo, devido à ignorância reinante, à aversão que a maioria das pessoas nutrem por tudo o que é profundo e difícil  e porque não dizer, ao medo de tudo aquilo que não se pode exercer um controle.

Ainda estamos na Idade Média quando o assunto é Ocultismo.
No passado, os livros e os adeptos iam para as fogueiras da morte, em praça pública.
Nos tempos atuais, essas fogueiras possuem várias formas, sejam elas a ridicularização, a chacota, a crítica ácida, os rótulos discriminadores, os diagnósticos psiquiátricos ou mesmo a exclusão do adepto.

Nada disso, porém, deve ser impedimento para que a pessoa busque sua verdade.

O aprendiz também deve ter cuidado para não se deixar levar por falsos mestres, sendo manipulado por pessoas que se dizem “iluminadas”, mas que apenas repetem a ditadura de valores e de comportamentos ideais dos meios não-ocultistas.

Também deve estar atento ao próprio comportamento, separando momentos para estar consigo mesmo e outros para o convívio social, porque a vida é a Grande Mestra e é o laboratório da Alquimia Interior.

É nesse fluxo de contrair-se e expandir-se que se dá o aprendizado.

Seja qual for a religião seguida ou se a pessoa não segue alguma, mas que tem em si essa ânsia por descobrir o que está por trás das coisas que são aparentes, é importante ter sempre em mente que a meta deve ser o aprendizado e o autoconhecimento.

Rituais, leituras e mil parafernálias, ou mesmo frequentar uma igreja ou templo sem nada acrescentar e orientar para o crescimento como ser humano, a meu ver, é exercício inútil.

A verdadeira iniciação está dentro de cada um, na medida em que vai dando seus passos no Caminho da Auto-compreensão; na medida em que vai assimilando o que aprendeu para desenvolver seus potenciais; na proporção em que vai descobrindo seu papel no mundo e tirando aprendizado das lições que a vida dá, seja através das quedas ou das subidas que todos os dias experimentamos.

São passos muitas vezes solitários, difíceis, mas fazem parte de uma jornada que leva à Sabedoria, ao Autoconhecimento e consequentemente, à verdadeira Liberdade.

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