Um dia ela acordou triste.
Sentou-se na cama e não teve vontade de ir trabalhar.
Perguntava a si mesma pra quê
tudo aquilo: aquela casa bonita (pelo menos bonita em seu conceito de
beleza), minuciosamente montada até ficar com a “sua cara” ; perguntou porque
havia gasto tanto dinheiro em móveis, peças de decoração, lençóis novos, se sua
vida não mudara.
O homem que amava estava
longe e não sabia se voltaria.
A família não se importava
com ela: afinal, ela sabia se virar sozinha. Sempre soube. Era tão auto-suficiente,
inteligente, capaz, tão Mulher Maravilha, que podia fazer tudo sozinha. E
na mente dos pais dela, ela não precisava de ajuda, de atenção, de presença
paterna, materna, de motivos de preocupação, justamente por ser assim, tão
eficiente.
Uma Wonder Woman punida e esquecida, por ser tão Maravilha.
Mas foi trabalhar. Afinal,
precisava ganhar dinheiro para se manter e manter seus cachorros.
E dias foram passando,
passando, semanas, e ela foi perdendo o interesse nas coisas.
Procurou um psiquiatra, que
receitou alguns antidepressivos. Começou a tomá-los, sem sucesso.
Ainda não via mais graça nas
coisas que antes dava valor e que a faziam pular de alegria, corar de vergonha,
chorar de tristeza, pisotear de raiva, revirar os olhos de saudade.
Trocou de psiquiatra. O
segundo receitou remédios mais modernos, e dessa vez, o fracasso foi ainda
maior.
Ela dormia bem, se alimentava
bem, ia trabalhar, cuidava com esmero da casa, pagava todas as contas, mas era
apática diante de quase tudo e mais ainda diante das pessoas.
A opinião delas, o interesse
delas, a aprovação delas era totalmente desprezível. Até as mais
próximas, para ela, perderam a importância.
Procurou outro médico. Outros
remédios. Em vão.
Meses foram passando e ela
continuou do mesmo jeito.
Pior: cada dia que passava,
era mais uma coisa, mais uma pessoa, mais um valor que ia para o ralo. E que
não tinha retorno.
Pouca coisa havia restado em
sua vida: uns dois amigos, dos mais de 100 que possuía, só dois que ela realmente
ainda tinha vontade de ver ; seus discos, livros, sua casa, seus cachorros. Passou a ir a shows de rock sozinha, burlando convites e fugindo dos amigos.
Até o homem que amava, quando voltou, para ela já não era o mesmo. Porque ela já não era a mesma.
Até o homem que amava, quando voltou, para ela já não era o mesmo. Porque ela já não era a mesma.
Então, um dia ela acordou
conformada. Sentou-se na cama e ficou pensando.
Desistiu de tentar se
entender. Sabia que estava vendo o mundo com outros olhos e que
essa era uma viagem sem volta.
Estava numa jornada longa e
solitária. Pessoas que gostavam de aparecer, que necessitavam de aplausos de
outras pessoas, que eram influenciadas pelas opiniões de outras pessoas, essa
gente não a entenderia.
Jogou todos os
antidepressivos no lixo. Fez uma limpeza nos armários. Doou roupas, livros,
rasgou fotos, jogou fora velhos sonhos. Não. Não eram mais sonhos.
Seu velho mundo já não fazia
mais sentido e ainda, apenas ainda, não vislumbrara um novo mundo para por no
lugar.
Era só uma questão de tempo,
de espera, de paciência.
Precisava usufruir do vazio.
Do silêncio. Da penumbra. Precisava de paz e de uma momentânea, suave e necessária solidão.
Era só isso. Apenas isso.
Precisava do silêncio e do vazio até encontrar um novo mundo.
Não estava mais triste.
Estava livre.
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