Passei muitos anos tentando
escrever sobre esse Arcano.
Eu diria que, desde que estudo Tarot, nunca consegui escrevi
uma linha sequer sobre “ A Justiça ”.
Na verdade, sempre tive um
conceito interno de justiça diferente do
conceito que ela tem no Direito e na Filosofia, abrangendo os direitos
dos cidadãos, a igualdade, a ordem social, a reparação, etc.
Porque para mim a Justiça sempre
esteve além do mundo dos homens, isto é,
sempre abarcou também o Reino
Vegetal, Animal, os Seres Animados, Inanimados, as Pedras, as Águas, as Plantas, enfim, todo o Universo. Pode
parecer loucura, não é?
Mas é assim que penso.
Então, tudo o que eu lia sobre a
Justiça, a Divina ou a Humana, me deixava atordoada, irritada e confusa, porque
não tinha sintonia com meu conceito interior sobre Justiça e isso me aborrecia
demais, ainda mais por eu ser uma Libriana com Ascendente em Libra e ter a
Balança da Justiça como signo imperando em minha vida e logo ela, “justo a
Justiça” para mim era “incompreensível”,
ou melhor, não compreendia como “deveria ser”.
Então tentei organizar meus pensamentos e procurar por no
papel como sinto “ A Justiça”, a maior de todas as virtudes que um homem pode
ter; a maior virtude de um Ser Superior, a maior virtude do Universo; a Rainha
de todas as Virtudes, acima até do Amor.
Porque é ela a geradora de todo o
BEM do Universo!! E a falta dela, a Injustiça, a raiz de todo o MAL.
Vejam: Não estou falando de Direito,
Leis, Legislação, até porque em toda parte há leis extremamente injustas e regras
e atitudes justíssimas que talvez jamais se transformem em leis!!
Mas comecemos por Aristóteles.
Para ele, “A justiça é a forma perfeita
de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência moral
perfeita. Ela é perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento de justiça
podem praticá-la não somente a si mesmas, como também em relação ao próximo.”
Ainda para Aristóteles, há dois
tipos básicos de Justiça: a distributiva e a corretiva.
Nas palavras dele, “ uma das espécies de justiça, em sentido
estrito e do que é justo na acepção que lhe corresponde, é a que se manifesta
na distribuição de funções elevadas do governo, ou de dinheiro, ou das outras
coisas que devem ser divididas entre os cidadãos que compartilham dos
benefícios outorgados pela constituição da cidade, pois em tais coisas uma
pessoa pode ter participação desigual ou igual à de outra pessoa” e o outro
tipo , a corretiva, é “ a que desempenha
função corretiva nas relações entre as pessoas. Esta última se subdivide em
duas: algumas relações são voluntárias e outras são involuntárias; são
voluntárias a venda, a compra, o empréstimo a juros, o penhor, o empréstimo sem
juros, o depósito e a locação (estas relações são chamadas voluntárias porque
sua origem é voluntária); das involuntárias, algumas são sub-reptícias (como o
furto, o adultério, o envenenamento, o lenocínio, o desvio de escravos, o
assassino traiçoeiro, o falso testemunho), e outras são violentas, como o
assalto, a prisão, o homicídio, o roubo, a mutilação, a injúria e o ultraje.”
Continuando com Aristóteles:
“O justo nesta acepção é, portanto o proporcional, e o injusto é o que viola a proporcionalidade. Neste último
caso, um quinhão se torna muito grande e outro muito pequeno, como realmente
acontece na prática, pois a pessoa que age injustamente fica com um quinhão
muito grande do que é bom e a pessoa que é tratada injustamente fica com um
quinhão muito pequeno. No caso do mal o inverso é verdadeiro, pois o mal maior,
já que o mal menor deve ser escolhido em preferência ao maior, e o que é digno
de escolha é um bem, e o que é mais digno de escolha é um bem ainda maior.”
Como vimos, parece existir dois tipos de Justiça principais:
- A Justiça como distribuição correta e equânime de bens, de direitos, agindo assim como uma antecipação ou prevenção de conflitos, de prejuízos, de danos e sendo uma geradora do Bem; aqui há um caráter inicial dos fatos; há decisões para tomar, há um Mal a ser evitado e um Bem a ser realizado.
- A Justiça como reparação, isto é, um prejuízo já ocorreu, um dano já se concretizou, uma parte já foi prejudicada e uma autoridade ou pessoa imbuída de poder irá ajuizar essa reparação. Mas aqui, apesar de decisões serem necessárias, o Mal já ocorreu, a Injustiça já se deu, e a Justiça entra como elemento indenizatório, reparatório, compensatório.
Para que aconteça o
primeiro tipo de Justiça, é preciso levar em conta também as condições
particulares de todas as partes envolvidas. E o que seriam essas condições?
Como ser justo na distribuição de bens entre, por
exemplo, duas pessoas ?
Levar em conta seus esforços, suas dedicações, suas
necessidades, suas limitações, suas oportunidades concedidas, seus méritos,
seus valores? Apenas um desses
elementos? Dois deles? Ou todos?
Imaginemos um reino utópico no qual nenhum ser sofresse
injustiça.
Como seria? Todos e tudo teriam exatamente aquilo que
mereciam segundo suas ações, suas não - ações, seus valores, suas capacidades, suas
necessidades, seus esforços, seus interesses, suas condições, suas limitações e
suas oportunidades dadas?
E no segundo tipo de Justiça, a reparadora?
Vamos direto a um exemplo.
Um indivíduo é assaltado e
tem seus bens roubados de forma violenta. A polícia consegue prender o
ladrão e este é julgado, condenado, sentenciado a 10 anos de prisão e supomos
que a polícia consiga recuperar os bens e devolver ao proprietário.
Pergunto: houve
Justiça?
Que Bem foi gerado? Que virtude apareceu aí?
Que felicidade foi proporcionada?
Nenhuma, não é?
Portanto, creio eu, que diante do Mal já ocorrido, não
existe Justiça!!!
Existe sim, uma espécie de Vingança Legalizada, Vingança
Legitimada, através da pena, castigo, reparação consoladora, indenização, seja
lá o que for, mas jamais, jamais Justiça!!
A vítima, mesmo que tenha todos os bens de volta, terá traumas, terá uma
injustiça contra si sofrida, o assalto em si; por mais que seja uma pessoa otimista, nunca
mais será a mesma, depois de passar por uma violência. O ladrão, por sua vez,
será punido por um crime com a privação de sua liberdade e de várias coisas de
sua vida e o fato é que ninguém, ninguém mesmo é capaz de afirmar se o crime cometido
e a punição aplicada se equilibram na Balança da Justiça do Universo para que
isto seja equânime!!!!
Fico muito triste quando vejo os injustiçados gritando por
“Justiça”, porque, a meu ver, ela é impossível de acontecer nesses casos.
A reparação de um erro, a tentativa de correção de um mal,
de um prejuízo, de um dano, de uma injustiça, jamais deverão levar o nome de Justiça.
Repito: O nome é Vingança
Legalizada, Vingança Legitimada, Vingança Institucional.
Ou a velha Vingança particular. Só isso.
É necessária? Claro que é necessária!!!
Consola, alivia, traz um pouco de paz para as vítimas, um
pouco só; faz o criminoso sofrer ( às
vezes, porque se ele for um psicopata, nunca sofrerá) ; faz a sociedade seguir
em frente, um pouco consolada, conformada, mas Justiça??? Nunca!!! Simplesmente
porque o tempo não pode voltar atrás.
Virtudes só geram o Bem. Só visam o Bem. Só distribuem o
Bem.
E a Justiça, como a maior de todas as Virtudes, está acima
de toda e qualquer forma de reparação ou consolação.